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Acabou a festa, agora é o lado real da história de momo



Policiais são acusados de espancar 14 adolescentes e obrigá-los a pular na maré, no Recife. Dois deles morreram afogados

Treze policiais militares suspeitos de envolvimento na morte de dois adolescentes e espancamento de outros 12 garotos durante o Carnaval foram afastados, ontem, de suas funções pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cláudio José da Silva. Oito PMs são lotados no Batalhão de Radiopatrulha e os outros cinco são do 16º Batalhão de Polícia Militar. De acordo com a ocorrência registrada na Corregedoria-geral da Secretaria de Defesa Social, quatro adolescentes teriam confirmado que os policiais afastados estariam envolvidos na prisão do grupo, mas eles não reconheceram os PMs como os responsáveis pela agressão. Hoje, os policiais lotados na Radiopatrulha prestarão depoimento na corregedoria pela manhã e à tarde.

O afastamento dos PMs foi solicitado pelo corregedor-geral da Secretaria de Defesa Social, José Luiz de Oliveira Júnior. Não há oficiais no grupo suspeito de envolvimento no caso. Foram punidos dez soldados, dois sargentos e um cabo. Também a pedido da corregedoria, o comando da PM determinou que sejam recolhidas as armas dos policiais, tanto as de serviço como as de uso pessoal, para exame de balística. Os PMs foram apresentados na corregedoria na terça-feira de Carnaval, mesmo dia em que ocorreu a agressão. Os adolescentes estavam chegando ao Bairro do Recife, quando, no início da madrugada, foram abordados por quatro viaturas, ficaram rodando por várias horas pela cidade, depois levados para a Ponte Joaquim Cardozo, na comunidade do Coque, na Ilha Joana Bezerra, área central da capital, espancados e obrigados a pular na maré. Diogo Rozendo Ferreira, 15 anos, e Zinael José Souza da Silva, 17, não sabiam nadar e acabaram morrendo.

Sobre o fato de os quatro garotos já ouvidos terem afirmado que os policiais que prenderam o grupo não teriam sido os mesmos que praticaram o espancamento, o corregedor-geral disse que essas são informações iniciais que precisam ser checadas. “Várias hipóteses devem ser averiguadas. Ou os adolescentes se intimidaram e não tiveram coragem para reconhecer os PMs como agressores ou o grupo realmente pode ter passado por viaturas diferentes. É isso que vamos esclarecer com as investigações”, afirmou José Luiz. Há informações de que outros policiais não identificados poderiam ter envolvimento no caso.

O corregedor-auxiliar coronel Geraldo Silva foi designado para comandar a sindicância que apura o crime. Para ajudar na identificação dos policiais envolvidos na agressão, a corregedoria já tem em mãos o mapeamento das viaturas que trabalharam no dia do fato. O rastreamento via satélite foi feito com o sistema GPS, que indica a posição de cada veículo. “Foram dezenas de viaturas atuando naquela área. Vamos hoje começar a analisar esses dados”, afirmou José Luiz.

Está sendo aguardado, ainda, o resultado do laudo cadavérico para saber se os adolescentes morreram afogados ou se foram vítimas de arma de fogo. Nos dois atestados de óbito entregues às famílias, a causa da morte é indeterminada. Extra-oficialmente, a informação é de que os corpos não apresentavam marcas de tiros.

Publicado no Jornal do Commercio, em 03.03.2006